domingo, 11 de setembro de 2011

Jabuticabas

Hoje colhemos jabuticabas no Campo Alegre para geleia e licor. Com a ajuda do Sr. Domingos, colhemos um “tanto bom”. Deixamos um pouco para alguma visita inesperada e para os passarinhos. Sempre achei impressionante a jaboticabeira! Além de uma bela árvore, suas flores são cheirosas e os frutos deliciosos.
Lembrei que já tinha lido alguma poesia sobre a doce negrinha. Busquei na net e lá estava “O tempo e a jabuticaba!” Adivinhem quem é o autor... ele mesmo, Rubem Alves!
Acho que essa crônica ajuda a nortear nossos objetivos...



“O tempo a e jabuticaba”

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.


Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.


Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.


Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de ‘confrontação’, onde ‘tiramos fatos a limpo’.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.


Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa…


Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos lizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.


Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.’
O essencial faz a vida valer a pena.

                                                                              Rubem Alves

2 comentários:

  1. Qué lindo árbol, no lo conozco, aquí en Uruguay no existe. Viendo la foro y leyendo a R.Alves "se me hace la boca por probarla". Me la imagino dulce, jugosa, fresca.
    Me gustó mucho lo que escribe Alves. Yo aún siento que quedan muchas frutas por comer en mi cesta, pero quiero disfrutarlas todas y cada una, las dulces y las amargas. Y también quiero dejar de perder mi tiempo con personas y cuasas que no son buenas, que no tienen nada para dar. Quiero vivir reconociendo lo escencial y caminar al lado de la gente que disfruta de mi compañía. Gracias por compartir este poema. Mariana

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  2. Lí esse maravilhoso poema de Rubens Alves e o absorvi como quem experimenta favos de mel, que no caso são jaboticabas.
    Também acho que as pessoas deviam ser todas assim. Deviam saborear ao máximo. As pessoas deviam apreciar todos os momentos vividos ao lado de outras, desfrutando as delícias da alegria, da amizade, da solidariedade, do aconchego fôfo e quente do amor, não permitindo que dúvidas possam ameaçar a essência do bem maior que Deus nos deu: a Vida e as pessoas que nos cercam. Abraços a todos que se aproximaram da bacia de jabuticabas e souberam degustá-las. Ruth.

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