Causos

"Não sobe, senão você cai..."

Aí Bianca sobe, e quando chega no topo diz: não caí... 


Essa é uma criança movida a desafios, e tem todas as chances de se tornar um adulto de sucesso, buscando realizar coisas, com riscos calculados e quando chega onde queria, diz, mesmo que seja prá si mesmo: não caí...


No entanto existem aqueles que jamais tentam, com o propósito de não desafiar. E serão excelentes cumpridores de sua obrigação, sem qualquer espírito de ousadia, por menor que seja, tendo as chances de serem cada vez mais frustrados em suas vidas.


Também encontramos alguns que desafiam, não caem uma, duas ou mais vezes, mas que quando caem, jamais tentam de novo, principalmente quando alguém diz: eu te falei que você ia cair... Frase infeliz.


Subir, descer, mas principalmente cair, é algo que faz parte da nossa vida. O importante não é o tamanho do tombo, mas principalmente a capacidade de se levantar. Muitos o fazem sozinhos, outros não conseguem sem ajuda, mas aqueles que, depois de uma queda, resolvem não se levantar, destroem suas próprias vidas, ainda em vida.


Pais que incentivam seus filhos a experimentarem desafios, desde a mais tenra idade, estão criando seres desafiadores, com medo, mas principalmente com vontade de realizar. Perguntando a grandes desafiadores, tais como alpinistas, mergulhadores, corredores se têm medo, a resposta é única: sim. Só quem tem medo realiza, desde que tenha o medo sob controle.


O medo é uma lei natural, de auto-preservação. Uma regra que temos dentro de nós, dizendo que temos que nos cercar de todos os meios para que vivamos o mais longo tempo possível de nossas vidas. No entanto, quando o medo nos controla, ao ponto de não nos permitir realizar coisas que vão muito próximo do limite de nossa capacidade, ou em alguns casos até além do limite, somos seres que admiramos muito aqueles que realizam, sem jamais termos tentado.


Então, pais, mães, avós, tios, e todos aqueles que cuidam dos pequenos seres que estão sob nossa tutela, jamais os inibam a tentar o difícil, ou até mesmo o impossível. Na pior situação, auxilia-os a realizar esses desafios, faça-os compreender que obstáculos são para serem transpostos ou contornados, mesmo que para isso tenham que buscar ajuda.


Valdo Garcia Filho
                                                                            
Comentário do Rubem Alves sobre os celulares


"Eu fiquei, então, pensando sobre o sentido psicanalítico dos telefones celulares e a interpretação que eu tive foi a seguinte: quando eu era menino, a diversão da gente era ir à matinê de domingo, assistir bang-bang. E a coisa que a gente mais desejava era ter um revolvão e sair para a rua com o revólver na cintura assustando todo mundo e dando tiro. Era a fantasia infantil da gente. Claro que a gente nunca teve revólver nem saiu dando tiro, nunca realizamos então esse sonho infantil. Mas agora, graças aos telefones celulares, os homens saem com seus coldres e os seus revólveres. Então eles chegam no restaurante e – pum! – põem o revólver na mesa, por que pode ser que, a qualquer momento, sejam chamados, é aquela idéia de alguma coisa urgente, eu sou super, super-herói, eu tenho de agir, eu tenho de agir imediatamente, eu tenho de estar em contato com o mundo, eu sou muito importante, muito importante – de modo que eu não posso estar nem um segundo longe do contato com o mundo. Aprenda uma coisa: nós não temos a menor importância. O mundo vai continuar do mesmo jeito, sabe? Então, guardem os celulares para serem um pouquinho mais humildes, para poderem estar mais presentes, porque uma pessoa com celular ligado nunca está presente, ela está sempre à espera de uma chamada. Isso é ruim, não é?"

Festas juninas
Ruth Micheletti Faraco

“Olha aaaiiii moçada...
Chegou a hora do graaande baile...
Vamo arrastá o pé...
Vamo requebrá as cadera...
Vão chegando os par...
os cumprimento das dama...
os cumprimento dos cavalheiro...
caaamiiinho da roça...
olha a chuuuvaaa... já passôôô...”

e assim vai...

O “arraia” está em festa!
E festa é alegria
tingida com todas as cores,
flores, fitas e poesia...
A música marca o ritmo
da tradição que atravessa os tempos.
Dizem que vem do Egito,
pra celebrar a colheita,
e aqui no solstício do inverno,
quando o milho está pronto,
a festa homenageia os santos.
Três santos do mês de junho:
Santo Antônio, o casamenteiro,
Auxilia os namoradeiros;
São João lembra a fogueira
Que Isabel, bem no alto acendeu
P’ra avisar Maria
Que o seu João nasceu;
São Pedro, o guardião das portas do céu, é também o pescador
Dos seguidores da fé.
A festança recebeu
de cada lugar um pouquinho:
das pomposas festas francesas, até os fogos da China.
A quadrilha, os passos marcados.
Nas roupas, o luxo das sedas sobraram,  ficaram as rendas, os
laços e as fitas nos
vestidos de chita;
Quantas coisas da Europa,
absorvidas por nossa cultura,
foram aqui modificadas
com o jeitinho brasileiro.
Quando o baile começa,
Na roça ou na cidade,
tem sanfona, tem triângulo, tem
banda ou sinfônica
que embalam a melodia
com ritmo e alegria,
e convidam aos presentes
pra dançar com muita coreografia.
Brincadeiras e folguedos
Causam risos e arrepios
Com volteios e sapateados que dão harmonia aos pares,
Com tantos rodopios.
A festança é animada,
Os quitutes, nem se fala,
típicos de cada lugar,
Tem sabores variados.
A mesa é farta
Alimenta todo o povo
Que festeja de montão.
A primeira festa junina
Animada em nossa escola,
Quase se perde no tempo, mas mantém a tradição festiva.
Desde 50 anos atrás
Que delícia essa festa é
Comemorando todos juntos
alunos, professores e famílias
no “arraia de Santo André”


Simplesmente, Arlete!

Esta é a história da Arlete, vizinha da minha mãe. Vive na Nicola Dumbra, uma pequena rua de um bairro simples de Rio Preto. Faz pouco tempo que fiz a relação entre Dumbra, palavra de origem italiana, ombra, que significa sombra, e esta ilustre moradora. Realmente ela é como uma árvore frondosa, cuja sombra restaura e alivia tanta gente.


Decidi escrever sobre ela porque certamente é uma personagem pouco conhecida para além daquela pequena rua. Quase anônima. Mas queria que tivessem muitas arletes no mundo. Certamente seria mais solidário, divertido e movimentado. Sim! Muito mais movimentado, dinâmico. Parece até que ela bi-loca aparecendo em vários lugares e situações ao mesmo tempo. É incrível! Cheguei até a comentar com minha mãe se ela realmente consegue dormir à noite


É uma mulher singular. Seu estado civil é “ser mãe”. Com todo respeito, não a vejo casada, nem solteira, é simplesmente mãe de dois jovens. Mãe dos pequenos que são guardados por ela todo dia. 


É costureira. Cuidadora de crianças. Cuidadora dos vizinhos. Cuidadora geral. Posso imaginá-la sempre atenta ao seu redor, mesmo fora daquela rua. Nos coletivos, nas filas, nas calçadas, nada escapa ao seu faro, à sua mirada. Ela se importa, se envolve, e muitas vezes ajuda decidir situações difíceis. Chega a salvar, aliviar, amenizar dores, sofrimentos ou mesmo pequenos apuros.


Mas o engraçado é que ela sai de cena rápido. Participa ativamente, mas sai do cenário na mesma velocidade. Não tem necessidade de ser reconhecida como boa samaritana.


Vejo muitos vizinhos solicitando sua ajuda, pedindo pequenos favores. Ela serve e não espera nada em troca. Acho que sua alegria é ver os filhos bem. É poder trabalhar. É incrível como ela tem uma sede imensa de viver. Isso me chama atenção. E mais, tenho a sensação que ela está livre da tentação do prestígio, do poder e da riqueza. Nem se importa se é mal interpretada tantas vezes. Mas tudo isso é observação minha.
No entanto, parece que a maioria daquela rua nem nota a diferença que ela faz, mesmo que ela já tenha feito a diferença na vida da mesma maioria. Como se gente comprometida que não pensa só no próprio umbigo fosse a coisa mais natural de se encontrar.


Não hesita em usar o próprio telefone para chamar um socorro, fazer uma reclamação em defesa de algum membro daquela pequena comunidade de moradores. Recebe chaves das casas de alguns vizinhos com freqüência, para ser a vigia na ausência deles. Suas idas diárias às padarias e supermercados são como um “delivery”. Sempre tem encomenda de alguém.


Já disse a ela que quero fazer uma entrevista, mas ela está se esquivando.


Quero fazer uma visita surpresa e conversar mais profundamente. E prometo postar aqui. Sei que preciso ser sutil. Não quero estragar nada, nem interferir. Deus me livre de ser motivo dela mudar o tom da música que canta, de desafinar.


Arlete é separada do marido, venceu a batalha do câncer, e está vencendo o grande desafio de criar os filhos. 


Já pensei em criar um DISQUE ARLETE! (risos). Eu mesmo tenho seus números para me acudir quando não sei do paradeiro da minha mãe.


Espero ainda postar aqui uma foto, e, quem sabe, algum depoimento de um outro anônimo da Nicola Dumbra, que tenha vivido alguma experiência com ela. Com certeza é uma colaboradora de Deus!