sábado, 28 de maio de 2011

Uma gata chamada Mafalda!


                                                   fotos: Caio Molina                                  
            
“Olha, tem um monte de gatinhos ali!!!” Essa era a frase que a Mi me dizia quando passávamos em frente à uma feira de adoção de gatinhos voltando pro nosso apartamento, após nossa perambulação habitual pelas padarias da Bela Vista nas manhãs de sábado da capital. Naquela época nossos planos de mudança para o Canadá, que já estavam avançados, nos impediam de entrar, olhar, apaixonar e adotar uma daquelas pestinhas que ficavam se esfregando nas grades e fazendo charme quando passávamos. Sempre pensávamos no que iríamos fazer com um gato no momento de mudar de país, pois sabíamos um pouco dos desafios que nos esperavam: arrumar apartamento, trabalho, onde ficar com um gato, como levar um gato de um país a outro etc...  Tínhamos sempre uma lista de detalhes que nos deixavam cada vez mais longe de um bichano. 
Até que num desses sábados, contamos com o abençoado incentivo da mãe da Mi que nos encheu de coragem dizendo:  “Porque vocês não vão lá olhar? Afinal vocês gostam tanto...”
Dito e feito. Entramos na tal feira de adoção de gatinhos. Um lugar pequeno. Uma veterinária que com seu grande coração emprestava seu pequeno espaço para um grupo de heróis que recolhiam das ruas, tratavam e tentavam encontrar uma família pra alguns dos inúmeros bichanos perdidos e abandonados da cidade de São Paulo. Lá dentro olhávamos pra aquela gataiada tentando sentir qual seria o escolhido, mesmo sem saber ao certo o que faríamos com ele no momento da grande mudança.  Tentávamos brincar com alguns, pegávamos outros no colo, estudávamos as reações dos bichos, tudo pra tentar encontrar uma afinidade.  Num determinado momento, enquanto a Mi tentava “fazer amizade” com um gato, eu que estava com um braço encostado numa grade (um dessas jaulas que eles usam pra transportar os bichanos) senti “alguém” me cutucando, e quando olhei, era uma gatinha toda tranquila que se sentou na minha frente e ficou me olhando. Logo chamei a Mi e a mãe dela que já havia percebido o jeito especial dessa que em alguns minutos depois estaria conosco em casa. Neste dia, entendemos que na verdade, nós fomos os adotados. Mafalda ganhou esse nome por ser preta e branca como a Mafalda do Quino, e assim, passou a fazer docemente parte de nossas vidas.
Nos primeiros dias Mafalda parecia nos agradecer o tempo todo pelo novo lar e companhia. Era só alguém sentar no sofá, ela pulava no colo pra ganhar carinho. Com o tempo descobrimos que alguns pensamentos sobre gatos não passavam de mitos.  A história de que todos os gatos são traiçoeiros e que preferem a casa a seu o dono, passou a ser um mito quando percebemos o ritual que se repete até hoje. Quando chegamos em casa do trabalho, sempre temos dificuldades em abrir a porta, pois ela esta deitada na frente nos esperando. É sempre o mesmo ritual: entramos em casa, ela nos olha, mia, se esfrega na gente, e toda manhosa se joga no chão e espera carinho. É claro que ela adora a casa, ela conhece cada canto, se espreme pra entrar em todos os espaços possíveis, mas nos acompanha o tempo todo, corre no quarto para nos acordar de manha, só vai dormir a noite quando todo mundo vai também, deita no chão da cozinha enquanto cozinhamos e conversamos...
Vimos também que é verdade que gatos são temperamentais e não estão 24 horas por dia querendo a sua atenção. Mafalda pede carinho quando ela quer, mas adora também curtir seu tempo sozinha sem ser incomodada. E quem não gosta?
E a mudança pro Canadá aconteceu, e claro, todos os medos e receios de trazê-la ficaram pequenos depois que percebemos que ela já fazia parte da nossa história. Mafalda não só veio junto como nos ajudou muito no processo de adaptação por aqui. No ínicio nossas jornadas eram bem cansativas, afinal tínhamos que nos adaptar a uma nova língua, uma cultura diferente, o clima e todas as novidades de um país desconhecido para nós. Chegávamos em casa no final do dia exaustos, e encontrar Mafalda  deitada na porta nos esperando pra fazer todo ritual de carinho e boas vindas era gratificante.
Podemos dizer que Mafalda nos enche de alegria, confirmando que tivemos uma ótima ideia de adotá-la, e encorajamos todos que queiram a fazer o mesmo.”
                                                                                                           Ricardo Segantini, Canadá 


                                                               Ricardo, Mafalda "se sentindo" e Mirela

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