quarta-feira, 11 de maio de 2011

Milhões de vozes e imagens.

São Paulo. Passava das 10h da manhã de hoje. Depois de sair de uma das salas do Tribunal de Justiça, e enquanto aguardava o elevador, ouvia uma animada conversa entre colegas de trabalho. Era impossível não ouvir, pois falavam em voz alta. E quem estava na berlinda era um colega ausente que, pelo visto, estava trabalhando ali há pouco tempo. Falavam do despreparo, da preguiça, falta de força de vontade de aprender e blá blá blá. E não paravam mais. E eu ali, diante do elevador, não querendo ouvir, mas já indignado com o que ouvia. E quem estava no corredor também se tornou ouvinte daquele desabafo. Não agüentei, voltei até aquela sala e perguntei porque se achavam no direito de falar daquela maneira de alguém que estava ausente.  Silêncio. Meu e deles. Acho que o mais inflamado levou um susto. Talvez tenha ficado indignado. Talvez tenha tido vontade de ir atrás de mim tirar satisfações. Mas não foi. Falar demais, e de maneira desordenada é muito arriscado. A gente pode ficar constrangido ou até humilhado. Santo Inácio de Loyola fala do valor da humilhação, e de uma maneira clara e libertadora, mas isso é assunto prá outro momento.
Sai a pé do Pátio do Colégio e fui para o Palácio da Justiça. Pensando, observando. Me chamou atenção como naqueles inúmeros pequenos negócios, bem ao lado das colunas financeiras do Estado, a vida borbulha. Num beco que vende ervas medicinais uma mulher explicava os poderes do chá de boldo, mais à frente um vendedor de frutas separando em bandejas bagos de jaca. Tudo muito misturado, mas situado. Aquelas diferenças são naturais... “Chinelos de dedo”, alpargatas e artigos de marca registrada na China, lado a lado com Yves Saint Laurent, Prada, Nike.
Mais adiante, na faixa de pedestre concorridíssima entre o Palácio e o Fórum João Mendes, funcionários da prefeitura com pequenas faixas. Algo como “aguarde sua vez com paciência...”. Ao abrir o sinal a faixa era destinada aos condutores dos veículos, com frase no sentido de respeitar a faixa de pedestres. Estava admirado com essa iniciativa. Mas, acreditem! Com todo esse cuidado, um casal com filho de uns 2 anos que era levado no cangote do pai, se atreveu a cruzar com o sinal piscando... e quase assisti a um atropelamento terrível. Ao meu lado muitos comentários. Isso é interessante. Todo mundo emite um juízo imediato. E cada um com um critério. Para além de estar certo ou errado, isso é muito melhor que a indiferença!
Decidi entrar na Saraiva e ali na calçada um senhora muito perturbada gritava e depois emudecia. Isso repetidas vezes. Parecia grito de socorro. Na total ausência de lucidez aquela mulher deve ter ajudado a acender muitas luzes. Fiz questão de olhar ao meu redor de novo. Enquanto em outras ocasiões vi gente zombando, ali era diferente... as pessoas passavam e fitavam aquela mulher com seriedade, com pena, com indagações... Enquanto gritava ela se voltava toda para fora, para o céu... e quando silenciava parecia olhar para o nada. Impossível notar e ficar indiferente.
No final do dia, principalmente numa cidade grande, difícil não permanecer com tantas imagens e vozes. Por isso é importante voltar para casa, para o nosso lar, doce lar! Ali as vozes vão se calando, as imagens se distanciando...a gente respira fundo e adormece. No dia seguinte, muitas vozes e imagens...

2 comentários:

  1. Engraçado que tenho prestado atenção nas minhas andanças a pé por Belo Horizonte o quanto o motorista das grandes cidades sofre da falta de solidariedade e paciência. Ninguém é capaz de parar alguns segundos para deixar alguém entrar ou sair de sua casa ou de fazer a baliza para estacionar. O sinal verde mal abriu e já tem gente buzinando. Dois carros colidiram e a buzina come feia atrás, como se nenhum desses motoristas pudessem, na esquina da frente, se envolver em uma situação desagradável como essa.

    Quando a gente sai sem pressa dessa forma percebe quantas vidas cruzam com as nossas, quantas dificuldades, alegrias, tristezas. Às vezes paramos para pensar que nosso sofrimento é uma balela perto de certas coisas que vemos...às vezes somos solidários, às vezes passamos batido e engrossamos o caldo da indiferença. Aprendizado com certeza quando decidimos prestar um pouco mais de atenção nesse burburinho de provas que a vida nos dá para sermos um pouco melhores, caridosos, fazermos algo que realmente valha à pena em nossas vidinhas...

    ResponderExcluir
  2. Es así, a nuestro alrededor pasan tantas cosas increíbles, buenas y malas. Y la mayoría de las veces seguimos de largo sin verlas, sin maravillarnos o sin escandalizarnos. Hay pequeños milagros cotidianos que nos perdemos por pasar apurados y hay intensos dramas de vida a nuestro alrededor que no queremos o no podemos ver. A veces a mi me gustar pasear por mi ciudad como turista y sólo mirar a la gente actuar, comportarse y me imagino sus historias, sus dolores y alegrías. Que bueno que te animaste a cuestionar a esas personas que sin cuidado hablaban mal de otro, es difícil "levantarse ante la injusticia" pero cuando uno se anima, hay otros que lo siguen

    ResponderExcluir