quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Reintegração de Pinheirinhos

Não fiquei insensível ao que ocorreu ao povo de Pinheirinhos. Aliás, não me saiu da cabeça. Essa questão da casa como fator de construção da identidade não pode ser desconsiderado, principalmente por aqueles que devem fazer cumprir a Constituição Federal. Gente sem casa por conta da chuva. Gente sem casa por conta da falta de oportunidade. Gente se casa por conta do abandono. E agora, muita gente sem casa por conta desse reintegração, que na verdade, foi mais um desintegração.
Também acho arriscado fazer um juízo da situação com a pretensão da verdade. Mas a gente não deve se omitir, afinal a opção de Jesus pelos pobres está escancarada nesta situação. Meu anel de tucun está pesado demais nesses dias.
Mesmo sem pedir autorização, mas sei que ela é tácita, estou postando uma mensagem escrita por um amigo meu, deputado estadual, que acompanhou de perto a situação nos últimos dias. É o testemunho de alguém comprometido.

"Eu, Marco Aurélio, deputado estadual do PT e membro da CVX-MCL, estou desde a manhã de domingo junto ao povo do Pinheirinho. Agora, as 17h de 3a.feira, eu os deixei, para ir ao retiro que já se iniciou no dia 22 e terminará no dia 30. 
Eu não poderia ir ao retiro, sabendo do que estava acontecendo. Meu retiro foi com o povo pobre, simples.
Quanto as notícias no facebook, eu o alimentei sim, mas não com a velocidade que muitos alimentam, pois percebo que alguns, na ânsia de serem os primeiros a postarem notícias, acabam impostando fatos que não são verdadeiros.
Correu notícia de mortes de crianças, idosos, etc., e muitos veicularam isto no facebook. O que eu veiculo no facebook é extremamente verdadeiro.
Só para se ter uma idéia, eu recebi uma foto que mostrava um policial soltando gás de pimenta em uma criança. Quando minha equipe analisou a foto recebida, percebemos que não era da Polícia Militar de São Paulo, muito menos do Pinheirinho, mas era um fato ocorrido no Rio de Janeiro.
Cena lamentável, mas não era do Pinheirinho.
Eu, como só não dormi com eles, mas fiquei o tempo todo junto, posso dizer: não há necessidade de inventar, nem de aumentar absolutamente nada - só os fatos - tais como aconteceram - já são chocantes e gravíssimos desrespeitos aos direitos humanos.
Citarei só dois casos concretos, para se ter idéia do resto:
 Na 2a.feira eu fui visitar um dos abrigos que a Prefeitura de São José dos Campos disponibilizou para os desalojados. Quando entrei no local percebi uma super lotação, calor insuportável de um ginásio esportivo de telhas que não barram o calor, um pombo morto no telhado do ginásio, colchões ao chão, e sem água no local. Depois que vi o que vi, uma pessoa me perguntou se eu já tinha ido no carro.
Eu perguntei: que carro? E ela respondeu aquele ali (me apontando).
Era um carro velho. Ocorreu o seguinte: na desocupação, havia uma mulher de 65 anos, com AVC, que não anda, não se comunica. Então enfiaram a senhora no banco de trás do carro e o carro ficou lá no abrigo!
No domingo a noite, um grupo de despejados achou por bem ir para a Igreja. Fui também para a Igreja, onde o Padre os recebeu. Estavam todos no pátio dentro da Igreja. A Polícia Militar passou e jogou bomba de gás lacrimogênio DENTRO da Igreja... quer mais?
Os relatos são gravíssimos.
Fui postando no facebook, com a maior fidelidade possível - por isso, não fazia "on line", mas ao final da noite, para que o envolvimento emocional não alterasse o meu texto e não me fizesse relatar exatamente a verdade.
Na tarde de hoje, o grupo que estava na Igreja dirigiu-se a um terceiro abrigo da Prefeitura, e com isso, me senti mais motivado para então retirar-me do local e ir para Itaici.
Este texto que ora escrevo, o faço dentro de um carro, indo para Itaici - agora são 17h13m.
No meu site tem fotos e um filme a respeito. Podem acessar www.deputadomarcoaurelio.com.br
Nestes três dias que fiquei inteiramente com eles, exerci mais a função social de prestar solidariedade do que fazer algo de concreto.
Agora, passado estes dias, inicio uma nova etapa: a fazer os processos de responsabilização das autoridades pelas atrocidades ocorridas.
Colecionei alguns depoimentos e estive no Condep - Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo - e este conselho fará uma audiência pública na 2a.feira na Câmara Municipal de São José dos Campos, à partir das 19h.
No dia primeiro de fevereiro, retornam as atividades da Assembléia Legislativa, e a Comissão de Direitos Humanos, da qual faço parte, assumirá também este caso.
As denúncias serão feitas em todas as esferas cabíveis - desde o conselho tutelar da cidade de São José dos Campos até os organismos internacionais da ONU em defesa dos direitos humanos.
Há muito por fazer, mas não arredarei mão e nem deixarei o tempo fazer o esquecimento daquilo que vivenciei.
Eu tenho autoridade para falar do Governador Alckmin mais do que ele, pois ele do Gabinete deu aval ao Tribunal de Justiça, e eu estava na rua levando as bombas.
Quando Marco Aurélio Galletta fala do Tribunal de Justiça, o Juíz Presidente chama-se Dr.Sartori, e o seu Juíz assessor chama-se Rodrigo Capez. O Rodrigo Capez estava pessoalmente na hora da desocupação, pronto para despachar contrário a qualquer liminar que pudesse vir de qualquer esfera. E foi o que ocorreu, quando o Juíz Federal Dr.Samuel ordenou a imediata paralisação da reintegração de posse, e o Juíz Rodrigo Capez de imediato acolheu e documentou que não iria cumprir, como de fato não cumpriu.
O Dr.Rodrigo Capez é irmão do Dr.Fernando Capez. Fernando Capez é deputado estadual do PSDB.
Meus amigos: o relato já está ficando grande demais. Quaisquer dúvidas podem postar. Eu mesmo só devo voltar a escrever após o retiro, ou seja, após o almoço do dia 30 de janeiro. Meu retiro de 8 dias transformou-se em 4 dias. Mas, para Deus, não importa o quanto de tempo que me disponho a retirar-se, mas a abertura que terei à Ele. 
Uma pessoa que me acompanhava e sabia que eu deveria estar no retiro desde domingo, disse-me: bem, mas voce está num retiro, afinal em ambos os lugares tem Deus.
(Lógico que a pessoa se referia aos pobres que estavam diante de nossos olhos).
Abçs a todos

Marco Aurélio de Souza
CVX-MCL" 

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